(ao parceiro Brasilande de Sá Barreto)
“A voz faz o trabalho do Budha”
Esse poema nunca vai ser lido
porque o escrevo de forma automática
deixando o subconsciente ladrar
Esse poema sempre vai ser lido porque
o escrevo de forma automática
deixando o subconsciente grunhir
Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos)
bóiam na clara espessa do ovo olhar
Minha mãe ainda menina vestida de florista dança
em volta da fogueira composta por galhos de sândalo
(creio que ela traz nos lábios
a canção que contem meu nome)
Vou mais longe ainda alongando
os braços e o pescoço
para pegar no cabo do machado
que cortou a árvore
usada para ser um dos mourões
que integraram os alicerces da casa
que reverenciou os meus franceses ancestrais
O raciocínio começa a impor seu reino,
o escritor aqui assume o seu sentido
de ser um dos pensares do mundo
para destravar o sentimento inútil,
de ser inútil, de servir para nada,
de estar vivendo atoa
Vazio, vazio da dor inexplicável,
carolas de flores frescas,
galhos e folhas prontas
para compor as novas camada do chão
Eu, o chão do planeta:
as pessoas pisam em mim,
os animais dos grandes cerrados
armam suas camas de chuva
sobre os vãos de minhas costas
Poeta que dorme nas camadas do homem
Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho,
continue acordado, ajustando a vida
desse homem a vida do mundo
Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho
possue uma família de sangue
Estou triste, o que é tristeza?
Segundo Osho, somente um momento profundo,
um instante de inverno,
um tempo em que as luzes ficam geladas
Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos)
bóiam na clara espessa do ovo olhar
Após um banho de água real
retomo o poema inesgotável
e as rédeas da escrita
O livro aqui plasmado
cabe no canto esquerdo das estantes do rosto
Palavra por palavra entrando
no beco moradia de Manoel Bandeira
Também sou poeta menor,
partícula única da poeira milenar
Meu pai terrestre,
por uns sóis nos Antares da juventude,
fôste o sonhador Roberto Paranhos,
tocaste em algo terrível,
por isso abandonaste o dom de “ver” num canto,
no sono, nas redes do esquecimento?
Pai, não posso julgá-lo,
com que direito o faria?
As brasas apanhadas por ti
nos quadrantes do insondável, cá estão,
mais vivas do que nunca, mais obtusas,
mais agudas, prontas para estilhaçarem
a penitenciaria vidraça
Nenhum arrependimento tremulando nos varais
Nenhuma perna quebrada por conta dos tombos
Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos)
bóiam na clara espessa do ovo olhar
Esse poema levantará vôo
andando feito pássaro curiango
(pássaro que muitas vezes vi
entre os bambus e as sombras da noite mágica)
Venha, menino criado longe do mar,
cravar os dedos na casca do fruto futuro
Venha, homem de gênio,
marchar sob o teto nevoento
dos aviões antigos
Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos)
bóiam na clara espessa do ovo olhar
Nas artes das letras empunho a espada
forjada por meu mestre do espírito humano
Ela é a minha caneta, a boca e a língua
“A voz faz o trabalho do Budha”
(edu planchêz)
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