quarta-feira, 28 de abril de 2010

TEXTO QUE ACHEI POR AI ( q apareça o autor)

"Charles Baudelaire, autor de livros como As flores do mal, Escritos sobre arte e Paraísos Artificiais - o haxixe, o ópio e o vinho. Textos concebidos sobre a condição de poeta perdido e açoitado em um mundo capitalista e pragmático.
Fixado nessa cadeira alimentada por inúmeros cupins e com um saboroso vinho tinto na mão direita tento esboçar idéias que para muitos (sobretudo uma classe acadêmica e necrófila) são apenas desvios de uma mente atormentada e desesperada; resultado de uma infância humilhante e uma juventude à beira da morte. A poesia é existência. É entregar-se a vida. É dor e prazer, realidade e loucura. Essa correlação de vida e poesia não pode dissociar. Ela inclusive nasceu nessa idéia; primeiro com os trovadores, depois com os burgueses da corte, passando pelos profetas, em seguida os boêmios, e por fim os jovens universitários moribundos e sem pele. "Escreves com sangue e verás que o sangue é espírito." Expulsa do seu corpo versos como vomita sêmen numa noite tumultuosa. "A poesia é a metralhadora na mão de um palhaço". É preciso penar muito para chegar a sua essência. Aprendemos isso com os poetas fesceninos. O erotismo, uma válvula de escape fantástica. Poeta de bermuda e chinelo havaiana.

Seguindo nessa linhagem de literatura intensa e até mesmo orgiaca num ensaio do cineasta e também poeta fescenino Sylvio Back intitulado A poesia das Inevitabilidades ele diz que o poema erótico nasceu nas mãos criativas de Goethe, Baudelaire, Rimbaud, Whitman, Apollinaire, Valéry, Verlaine, Kafávis, Pierre Loÿs, Boris Vian, sendo sancionada por toda a sociedade manipuladora, pela mídia, editores, livrarias e os tão aclamados "críticos virtuosos". Sempre os críticos, os críticos... Em 1807 em uma época de calorosas revoluções, o homem começando a sentir-se oprimido e desafiado pela máquina o inglês Lord Byron lança um livro cujo título "A Hora do Ócio" chocou os chamados seres sem pele, arrasando o jovem rapaz devido as críticas duras em relação ao seu primeiro trabalho. Em seguida revoltado e com tom de ironia publica "Bardos Ingleses e Críticos Escoceses"! Precisamos alimentar as vísceras desses tolos sangue-sugas - noites de porre, madrugadas de absinto. O marginal é aquele ser bárbaro, posto em escanteio sem dó nem piedade. Muitas vezes por vontade própria. "A marginalidade é formada por aqueles que estão 'out' - aqueles que não tem acesso ao poder estabelecido involuntariamente por miséria, ou voluntariamente por escolha estética religiosa", já dizia o profeta do caos Timothy Leary.

Higiene, conduta e moral. A poesia está nos tempos atuais recheada de lirismo hipócrita e versos gentis. Uma volta ao parnasianismo; escrever de forma amena dentro da forma clássica inspirada nos gregos, ou seja, não importa o "eu- emocional" apenas o "eu-pensante". Isso está muito relacionado também com a poesia-objeto de João Cabral de Mello Neto. Denovo a forma valendo mais que a intuição e a inspiração. Sou mais Roberto Piva que demora sempre em média dez anos pra publicar uma obra, pois ele acredita naquela idéia de inspiração, de santo baixando mesmo. A idéia do choque e do susto. Ver por exemplo uma mancha em um banco de praça o dia todo e viajar em suas formas, se perder em seus desenhos, se ocultar em seus contornos. Daí nasce a linguagem poética. "O poema nasce do espanto e o espanto do incompreensivel." Por isso insisto, marginal é quem escreve à margem apenas por não vender sua arte a uma classe intelectual e acadêmica que vivem coçando seus cus atrás de mesas com mil canetas no bolso e nenhuma coragem nas ações. "O poeta tem que cair na vida, deixar de ser brocha pra ser bruxo". "O poeta é um vidente". Com Rimbaud aprendemos isso, com Wiliam Blake as famosas "portas da percepção" e com Ginsberg o êstase búdico. Desvencilhar o que é frágil e criar uma arte para poucos mas com muito conteúdo. Também acredito em você, Piva. Infelizmente seu dizer tem verdade, tem conteúdo. "A poesia sempre será uma arte minoritária." Cabe a nós, seres excluídos e ausentes de toda "moral puritana" cultivar a pele, o pelo e a exaltasão dos sentidos. Os estados alterados da consciência que um tal de Salvador Dalí (baseado nos estudos de Freud) nos ensinou com seu surrealismo real e vertiginoso, delirante, eterno.

"A poesia é a orgia mais fascinante ao alcance do homem". André Breton.

Comecei esse texto depois de uma conversa com um conhecido meu. Falavámos de literatura, de Kafka a Machado de Assis, passando pelos filósofos e música popular. No meio de uma conversa comecei a falar de gênios como Rimbaud, Mallarmé, Leminski, Allan Poe... portanto sobre poesia.
O que me chamou a atenção foi algo que ele disse que ficou na minha cabeça a noite toda. O pragmático rapaz disse com seu falar racional: "a poesia, mesmo a marginal sempre terá um caráter fresco." Ah que triste afirmação ele disse!! talvez porque nunca leu Allen Ginsberg e nada de poesia beat, simbolista, fescenina, concreta... Aqueles deuses da linguagem que chocaram toda uma sociedade com seus versos e atitudes. Veja por exemplo em 1956. Recital de poesia com os escritores beatniks em um salão recheado de bebida e excentricidades. Quando Corso (aquele poeta que mais tarde numa noite de escessos incentivaria o roqueiro Jim Morrison a publicar seu livro) recitava seus textos em meio a reprovações de um bêbado lunático. Ginsberg educadamente pediu que ele fizesse silêncio. O estorvo não cessou seu dizer sem lógica. Allen novamente pediu por favor e nada. Revoltado ele perguntou ao bêbado o que ele queria e este repondeu que queria "nudez". O poeta então se desnudou por completo e o bebum sob vaias saiu sem graça do ambiente e Ginsberg ovaciondo pelo povo. Ou então numa noite enquanto se masturbava ele lia um verso do poeta-profeta-vidente William Blake que dizia isto:

Ver um mundo num grão de areia
E o céu numa flor selvagem
Segurar o infinito na palma de sua mão
E a eternidade numa hora.

Nesse momento o poeta beat ouviu a voz do próprio Blake dizendo esses versos e ele percebeu que deveria continuar nessa linhagem de poeta-profeta. Rimbaud abrigado pelo também poeta Verlaine viajou durante todo o dia numa mancha na parede sendo expulso da casa e passando a perambular por semanas com os mendigos da praça Maubert. Certa vez chegou a se enclausurar numa noite em um armário para aprender a falar árabe e alemão. É desse tipo de vivencia que necessitamos. "Não acredito em poeta experimental que não tem vida experimental." É preciso roubar o infinito, entrar e sair de todo sistema. Vomitar na mesmice seu mais secreto sentimento. É preciso viver, viver, mais do que isso viver, viver...

"O poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramentos de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota neles todos os venenos para só guardas as quintessências. Indizível tortura na qual ele precisa de toda a fé, de toda a força sobre-humana, onde ele se torna entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito - o supremo Sábio! - Pois ele chega ao desconhecido!" Todo poeta deveria seguir na íntegra essa máxima de Rimbaud. Ser vidente. "O poeta é mesmo ladrão de fogo"."

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