segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A FESTA DA COSTA LESTE


A FESTA DA COSTA LESTE


Há tantos anos folheio "CEM ANOS DE SOLIDÃO"
e nunca chegava a coragem para devorá-lo
O tempo é chegado, as primeiras páginas...
Gabriel García Marques, um colombiano?
Nas minhas simples contas, mexicano
Como Sócrates nada sei
Possuo nada mais que algumas
noções gramaticais e...
Na verdade nunca me interessei pelos estudos
obrigatórios

Raul Seixas tangendo a mosca azul para a noite das
estrelas compactas (CD's, Fitas e os velhos discos)
Aposto num "pop florestal"
A vitória régia me seduz
e o neón me induz aos palcos


A cidade no mato
O mato prateando meus pés
Não creio que isso seja um poema
Ao mesmo tempo confesso minha majestosa vaidade

A música exerce um papel-fino em meu diafragma
Seguro meu pênis,
Vontade de me masturbar sem nenhuma razão
aparente
Nu sobre uma almofada em cores quadriculada
Sobrevivi a tantas chuva-fraturas expostas
Sobrevivi
Rock
Elvis
Pepitas sonoras se desintegram em minha cama
projeto da luz
Rock
Forte jato de almas cantoras impregnando o esquálido
teto da casa que me abriga
Rock
Mil páginas para ele

A consciência me chega
O que é ter uma vida voltada apenas para os prazeres?
Chamo o poema
Ouço minha voz
"HOPW!"
East Village
Parque Novo Horizonte
O Uivo mais secreto de nossas casas
A folha que se entorta na máquina
Edgar Allan Poe merece o cantar de Chico César
Eu mereço a sintonia absoluta com o centro vital do
universo

Deuses celestes Poetas banidos voluntariamente das
academias de araque
Esses santos são extremamente magros
e suas catedrais por demais fedorentas
Sacerdotes que abandonaram o mundo coberto de
"lama" para tentarem florir longe das pessoas impuras
(em seus julgamentos)
acabaram perdendo completamente o humanismo
Ninguém merece tal coisa

A única ave
que se atreve ao sol
sou eu a borboleta inesquecível

Brasil
País cravado na vagina da América do Sul
Esse é o meu pedaço de planeta
Tal grão
Tal grau de latitude zero
(Ouço um sax negro, é a voz noite de Louis Amstrong)

Brasil de meus sonhos
Aqui ejaculo meus poemas
A qual América pertenço?
Brasil meu reino absoluto
Afino-me com a África pigmentar e com os flamingos
da Índia
Um vulto moreno negro aterrissa dançando em todas
as partes dessa escrita aromática

Batuca um blues, meu caro condor!
Batuca uma rumba, minha sariema!
Madrepérola da madrugada alçando um vôo atonal
sobre nossos colchões de todas as Américas
Aterrisso nessa escrita com os oito passos de Sensei

Piano pousado no platô daquele penhasco de Pompéia
O poema rei se entope de rock
e cospe o fogo do embrião estelar
nas bocas dos pássaros que somos

Nosso reino, essa terra de frutas-pessoas
De coração para coração
De flor para flor

As flores nascidas na lama da miséria
alcançarão a magnitude de um sol (Se lutarem
convictas)
Nos garante Sensei
Em frente!
A montanha inoxidável nada representa diante da
determinação de um guerreiro iluminado
Vinde pássaros que sou pássaro,
projeto único de minha natureza profundamente
humana
A flor que enfrenta sua miséria alcança
a magnitude de trinta bilhões de sóis

Estômago vazio, zero centavo em algum lugar
Duas latas para mantimentos
de alumínio prateado pousadas na mesa
Um mundo gigante acima e abaixo de meus doces pés
Nada de solidão
Cobranças, cobranças e muito mais cobranças
Do pai, da mãe, da ex-mulher, dos irmãos, do atual
sogro, de mim para mim e do Estado

Meu pai comprou um GOL do ano
Minha atual mulher diz que tomaremos água doce para
matar a fome
Hoje estou a dar risadas da fada miséria
No calendário cristão é natal
Alimento-me de música
Sopa de música fumegando colcheias sobre os telhados
de toda a vizinhança
Música ralada enfeitando o macarrão invisível
Música roncando em meu estômago
Mastigo música
Bebo música
Peido música
Mijo música
Cago canções geniais dignas de um Mozart urbano,
urbóide, um bode, uma cabra, uma cobra,
um leão, um
tiranossauro rex pra lá de gliter,
muito além do peso do mundo cético
que gentilmente me cerca
Acho que sou gênio e que a fome é linda
Nitiren diz que o que se passa nesse mundo é apenas
um milésimo do que passamos no outro
Então me mostre razão para lamentações
Eu que já cuspi sangue de demônios de todos os céus
imagináveis
cuspo música
Led Zeppelin/Rock/Reggae/Frutas/Flautas
Violões pratificados de terra sobrevoam
os móveis da sala
Diante do meu oratório Budas vindos de todas as
direções do universo
ouvem a música maravilhosa que nos embala para o
sempre

SJCampos/Parque Novo Horizonte
24 de dezembro de 1995

(edu planchêz)

Nenhum comentário: