segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

AGORA QUE ELA CANTA



Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho
um homem do passado
no dia de hoje
Uma tristeza longínqua respira
arcadas em minhas janelas humanas
Na divisa da tarde ruiva com a noite relva,
no pêlo de um lobo, pantera,
mocho e corvo
Trago o fígado da tarde-noite
para ser tratado pela água dos meus olhos.
"O rio de Piracicaba vai jogar ‘almas’ pra fora"

Delírios de um ano inteiro
para um vivente dos temporais inusitados
Gostaria de saber escrever bem melhor
Gostaria de anoitecer agora, agora que ela canta.

Primeira luz trazida pelas lontras das chuvas eternas
Resta-me ser um único hemisfério
Pelo azul eu sou o meridional
Pelo canto do uirapuru esqueço
tudo o que disse anteriormente
e me oculto na floresta

Através dos vãos das folhas pardas
avisto luas-planetas- astros-estranhos
Construo poemas gigantes com os pés
Fôlego, é o que mais tenho
Meu fôlego de flores cobre todo o Brasil
nas penas de mil bandos de
papagaios, aráras e bicos-de-lacre

Lágrimas de pedra precipitam-se
das dezenas de ossos que tenho:
olhos nos ossos, nas unhas e nos cabelos do sexo
Peruca das árvores cobertas do orvalho
Antônio Eduardo, pai e mãe de todos os cachorros
Cipó-chumbo brotando dos botões do micro-systen

Nos resta um contrabaixo acústico
cosendo a fartura rítmica
das últimas milhares de semanas
As bocas de mil Bhudas se abrem,
escorrem estrelas e o que não sei definir
Pássaros do breu, filhos de Allen Ginsberg
e Florbela Espanca

Minhas vistas violetas amam
a gelatina dos versos
clitóris de Ana Cristina Cesar

A luminosidade da minha poesia é um antídoto
ao avanço neo-conservador
A luminosidade da tua poesia é um antídoto
ao avanço neo-conservador

Chamar Allen Ginsberg de senhor é sacanagem
A boa música é negada as pessoas
O Brasil “exporta” os seus melhores talentos
e os nega para o seu próprio povo
E nos impõe uma ditadura mental
Ninguém conseguirá deter
o grande renascimento da poesia
Ninguém, nenhum demônio careta conseguirá deter
o renascimento do verdadeiro espírito humano

Que se dane que a Ivete Sangalo
vendeu milhões de cópias
O Brasil tem 160 milhões de habitantes
Não somos obrigados a engolir
esse e outros lixos oportunistas
Mediocridade se opondo à eternidade

Se esses aproveitadores olharem para o sol (interno)
conhecerão a cegueira de suas pobrezas

E quem é que precisa de lixo?

Determino o renascimento do homem total
Homem, homem, nem um pouco Deus e sim homem,
profundamente integrado ao movimento do planeta,
a partir do movimento de sua comunidade,
das pessoas que ali vivem

"É chegada a hora de reeducação de alguém,
do pai, do filho, do espírito santo, amém!"

Aquele que luta
apenas em prol de seu próprio benefício
está terrivelmente errado,
esse não é o movimento do universo,
essa não é a corrente do grande oceano vivo
Você, que se calou por pura conveniência,
deveria cortar literalmente a língua
e jogar aos porcos

Dinheiro, poder, posição, jogos de interesses:
Que pobreza!
Os homens esqueceram que são pássaros

Tire seu velho sapato antes que seja tarde
e pise o ventre de Mãe Terra
Dancemos voltados para a África,
para a Índia,
para a Serra da Mantiqueira,
para extremo sul dos Andes

Rebolemos recitando os versos
de todos os poetas brasileiros

Nordeste
Sul
Centro-Oeste
Norte
Sudeste

Ali está a estrela Dalva
e as estrelas das constelações
Ursa Maior e Ursa Menor

Que tal um "Frevo rasgado"?

"OLHE BEM NOS MEUS OLHOS/OLHE BEM PARA VOCÊ/
O FATO É QUE/
A GENTE PERDEU TODA AQUELA MAGIA (...)"

(edu planchêz)

25 de dezembro de 1995
Parque Novo Horizonte –São José Campos

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