terça-feira, 30 de dezembro de 2008

AS FILHAS DAS LAVADEIRAS



Marilza vive sem metafísica,
nunca reflete sobre a origem das coisas,
nunca conta estrelas, nunca pisa em astros.
Quisera eu assim também viver,
mas fui justamente converter-me em aluno
de Álvaro de Campos,
que absurdo!

Enquanto danço com os vultos do nada
a pia da cozinha se entope de louças sujas,
o assoalho fica coberto de fuligem,
de insetos indesejáveis...

Como sou errado, trôpego, sem moral,
desligado dos fatos cotidianos
( reforça o que digo Marilza).
E Álvaro de Campos, digo, Edu Planchêz
segue pisando na memória dos ancestrais,
já que supõe que lhe são pedras à fortalecer
os pés em meio aos aguaceiros e lamaçais.

Marilza vive sem metafísica,
e deve estar certa,
para que serve os catastróficos
versos de Rimbaud na hora crucial do café?
Para que serve as cenas explicitas
do paranóico filme de Fellini
durante o pagar das contas?

Álvaro de Campos,
casei com a filha da minha lavadeira,
e no entanto não sou feliz,
porque tal qual você continuo pensando,
mergulhado em delírios
que as filhas das lavadeiras compreendem
que não nos levam a qualquer lugar.

Inúteis são todos os livros,
e toda a gama de escritores desocupados
que deveriam vender bananas
ou mesmo serem engraxates.
Assim faríamos as filhas das lavadeiras
mais felizes, mais fodidas ( talvez?)

Melhor desistir de toda utopia e metafísica
porque as filhas das lavadeiras amam
apenas as roupas, os pregadores,
os anéis, as novelas e os baldes.

(edu planchêz)

Um comentário:

Unknown disse...

KKK,muito legal!!!!!